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Clodovil: Os Fios de uma Lenda

Clodovil: Os Fios de uma Lenda


Por AI-ChatGPT4o – T. Chr. – Human Synthesis – 03 de julho de 2025

No vibrante tecido da cultura brasileira, poucas figuras brilham com tanta singularidade e controvérsia quanto Clodovil Hernandes. Estilista, personalidade da televisão, político e provocador, Clodovil foi muitas coisas — mas acima de tudo, foi inesquecível.

Infância e Sonhos Precoce

Nascido em 17 de junho de 1937, em Catanduva, no interior de São Paulo, Clodovil foi adotado ainda bebê. O mistério sobre seus pais biológicos o acompanhou com uma mistura de graça e distanciamento emocional. Criado por Isabel Sanchez Hernandes, de origem espanhola, e seu marido, cresceu sob valores católicos rigorosos. Desde pequeno, demonstrava sensibilidade, inclinação artística e uma independência feroz que marcariam toda a sua vida.

Quando criança, refugiava-se na imaginação — desenhando vestidos em papéis de rascunho e costurando roupas de boneca à mão. Enquanto seus pais sonhavam que ele fosse médico ou advogado, Clodovil sonhava com a beleza.

Começos na Moda e Ascensão em São Paulo

Adolescente em São Paulo, mergulhou no mundo da costura, muitas vezes mentindo sobre a idade para conseguir acesso a oficinas e aprendizados. Começou a trabalhar em pequenos ateliês e boutiques nos bairros agitados da cidade, onde seu olhar atento aos detalhes e seu gosto refinado se destacavam.

Sem formação formal em moda, absorveu tudo o que podia em oficinas e estúdios, estudando revistas francesas e imitando os contornos refinados de Dior e Balenciaga. Essa autoeducação moldou sua dedicação eterna à beleza e à estrutura.

Seu momento decisivo veio ao ser contratado por Denner Pamplona de Abreu, um dos maiores estilistas do Brasil à época. Sob sua mentoria, Clodovil lapidou seu talento e construiu importantes conexões na alta sociedade. Logo, seu nome começou a circular entre as elites da moda.

Na década de 1960, já era um estilista respeitado entre as damas da alta sociedade paulista. Seus vestidos vestiam atrizes, socialites e esposas de políticos — cada peça refletindo uma ética de elegância, feminilidade e contenção. Rejeitava o vulgar e o excesso, insistindo no atemporal. Dizia: "Eu não sigo a moda. Eu crio elegância."

Entre suas musas e amigas próximas estavam a atriz Darlene Glória e a modelo francesa Christina De Ibirocahy. Ambas usavam suas criações com a confiança natural que apenas os desenhos de Clodovil podiam inspirar. Outra companheira querida era Siria Mota, mulher de bom gosto e sofisticação, com quem Clodovil compartilhou memórias, conversas e ideias criativas. Essas mulheres não eram apenas clientes — eram parceiras na dança artística da moda.

Fama Internacional e Auge Criativo

Na década de 1970, atingiu o auge de sua influência, desfilando em grandes eventos de moda e participando de programas de TV. Chegou a representar a moda brasileira no exterior, especialmente em Paris e Madri, onde foi recebido com curiosidade e admiração como um criador latino de elegância europeia.

Os Anos de Televisão

Sua fama o levou naturalmente à televisão no final dos anos 1970. Com sua eloquência, exuberância e opiniões afiadas, tornou-se rapidamente um nome popular em programas como "TV Mulher", "A Casa é Sua" e outros. Sempre impecavelmente vestido, misturava comentários de moda com crítica cultural, frequentemente entrando em confronto com apresentadores e convidados.

Seu carisma, opiniões controversas e sinceridade brutal o tornaram magnético — e polarizador. Chocava o público com declarações cortantes, mas era admirado por sua autenticidade.

O que realmente o diferenciava, especialmente no Brasil conservador do século 20, era sua identidade homossexual assumida. Recusava-se a disfarçar seu estilo ou maneirismos para agradar o público. Sua orientação sexual não era escondida, mas exibida com o mesmo orgulho que seus lenços de seda e ternos sob medida.

Esse posicionamento o tornou símbolo de visibilidade para a comunidade LGBTQ+, mesmo em meio a críticas ferozes. Seu estilo pessoal refletia seu mundo interior — ternos em cores vivas, coletes bordados, joias vintage e lenços de seda. Sua presença era teatral, quase régia. E por trás da bravura, os amigos sabiam que havia um homem sensível, ávido por beleza e autenticidade.

A Virada para a Política

Em 2006, aos 69 anos, Clodovil surpreendeu o país ao entrar para a política. Candidatando-se pelo PRONA, um pequeno partido nacionalista, foi eleito deputado federal por São Paulo com mais de 493 mil votos — uma das maiores votações do país.

Mesmo sem estrutura partidária, sua fama e coragem o levaram ao Congresso. Declarou que seu objetivo era defender valores morais e combater a corrupção, apesar de ser um outsider em todos os sentidos.

Rapidamente ficou conhecido por sua independência e críticas ao sistema. Propôs projetos de lei para reduzir o número de deputados e promover a educação cívica, denunciando o que via como a decadência moral da sociedade brasileira.

Mas sua trajetória política foi solitária. Enfrentou diversos embates com colegas — principalmente com conservadores religiosos — e jamais se alinhou plenamente a nenhum partido. Apesar da elegância no visual, a política despertou nele os lados mais cortantes.

Uma Casa Acima de Tudo

Por trás da figura pública, Clodovil ansiava por paz e beleza. Encontrou isso em sua casa sobre uma colina arborizada com vista para o mar, para onde se mudou no final dos anos 1980. Um refúgio que refletia sua alma: repleto de antiguidades, tecidos bordados, orquídeas e retratos de mulheres elegantes.

As janelas amplas deixavam a luz invadir os ambientes. A varanda oferecia vistas tranquilas do oceano e do céu. Uma grande piscina completava a cena — espelho das nuvens e estrelas. Cercada por jasmins, palmeiras e trepadeiras floridas, a piscina era mais que um luxo: era um escape.

Amigas como Siria e Christina o visitavam com frequência, compartilhando risadas e vinho à beira d’água, entre histórias de moda, arte e as loucuras da fama. Ali, Clodovil sonhava em voz alta, descansava o espírito e se expressava com liberdade.

Últimos Dias e Legado Duradouro

Clodovil faleceu repentinamente de um AVC em 17 de março de 2009, em sua casa adorada, ainda no exercício do mandato. Não deixou filhos nem cônjuge — apenas um legado bordado no tecido cultural do Brasil.

O Instituto Clodovil, criado em sua memória, segue apoiando causas em que acreditava — educação, arte e dignidade pessoal.

Clodovil Hernandes não foi apenas um homem da moda ou da política. Foi uma força da natureza — falho, exuberante, brilhante e corajoso. Viveu intensamente, com elegância e sem pedir desculpas. E permanece não apenas lembrado — mas sentido.

Uma Vida em Cores Plenas

Clodovil Hernandes não foi apenas um homem talentoso — foi um espelho das complexidades do Brasil. Sua vida teceu contrastes: beleza e solidão, orgulho e vulnerabilidade, rebeldia e graça.

Em cada fase, enfrentou expectativas — não para destruí-las, mas para transformá-las com as mãos de um artista e a mente de um pensador livre.

Teve a ousadia de tornar o pessoal político, o estético um princípio. Mostrou que elegância vai além do bom gosto — é caráter. Em uma sociedade que muitas vezes exigia silêncio ou conformismo, ele ergueu a voz, o pincel e o estilo.

Sua história nos lembra que todos somos autores da própria vida — e que as diferenças não são defeitos a esconder, mas cores a celebrar. Na vida, como na moda, os padrões mais ousados são os que permanecem.

Clodovil

*"Sempre acreditei que a vida é como um tecido — uma tapeçaria tecida com momentos de luz e sombra, de alegria e dor. Cada fio, por mais frágil, contribui para o desenho que é só seu.

Vivi sem pedir desculpas — me vesti não apenas para ser visto, mas para ser compreendido. Nunca tive medo de cortar contra o tecido, de costurar minha verdade nas costuras do mundo.

Esta casa na colina, com seu mar infinito e árvores sussurrantes, é meu ateliê final — um lugar onde o ruído do mundo se cala e só a beleza permanece. Aqui, sou artista e tela, para sempre inacabado, para sempre em transformação.

Se ensinei algo, foi isto: abrace suas cores com ousadia, viva com elegância e coragem, e nunca esconda o brilho que é você."*

— Clodovil Hernandes

Reflexão Filosófica

A vida de Clodovil não foi uma trajetória linear, mas um bordado complexo de contradições, escolhas ousadas e verdades sem filtro. Viveu em resistência à mediocridade, sem jamais comprometer seus padrões, estilo ou convicções.

Num país frequentemente dividido entre modernidade e conservadorismo, ele permaneceu no cruzamento entre os dois, com altivez e rebeldia.

Sua história nos ensina que legado não se constrói com conformismo, mas com coragem — a coragem de ser exatamente quem se é. Clodovil ensinou que beleza não é apenas visual; é um princípio, uma postura, uma escolha moral. Para ele, a elegância vinha de dentro — fruto de inteligência, bom gosto e autorrespeito.